Por Frederico Polesca Soares - Médico veterinário
"Na suinocultura, o setor de creche é responsável por receber o leitão da maternidade e prepará-lo para fase de terminação. Normalmente este período corresponde à idade de 21 a 70 dias da vida do suíno. Nesta fase, o leitão passa por diversos desafios como, por exemplo, a separação da porca, a socialização com outras leitegadas, a transição da dieta líquida (leite da porca) para dieta sólida, formação da imunidade ativa (a imunidade passiva, fornecida pela porca principalmente durante a colostragem, declina, e o leitão passa a produzir seus próprios anticorpos), dentre outros.
No entanto, mesmo sabendo de todas estas questões, negligenciamos, muitas vezes, um melhor manejo, um melhor ambiente e um espaçamento adequado para o desenvolvimento máximo dos leitões. Focamos em excesso em qualidade de dieta (tornando-as cada vez mais caras), em protocolos de medicamentos cada vez mais complexos e nos esquecemos de aspectos preventivos básicos e de baixo custo.
MÃO DE OBRA NA CRECHE
Em uma granja de ciclo completo, a mão de obra (MDO) implica, aproximadamente, em 10% do custo total do suíno produzido. Contudo, a MDO da creche representa cerca de 4% da MDO total. Logo, a MDO da creche corresponde 0,4% do custo do suíno terminado. Apenas a título de exemplo, se considerarmos que o custo de um suíno de 100 Kg é de R$ 300,00, a MDO da creche representaria R$ 1,20 deste montante. Outro ponto importante é que o leitão permanece na creche de 15 a 20% de sua vida (considerando desde a concepção até ao abate).
Na rotina da MDO, considero como de fundamental importância o estímulo aos leitões que tendem a permanecer grande parte do dia deitados. Após estimulação, que pode se passar pela sala com um chocalho (pedras dentro de uma garrafa pet), os leitões permanecem por pelo menos 20 minutos ao redor do cocho e das chupetas de água.
A automação dos sistemas de alimentação não eliminou a necessidade da MDO para o arraçoamento dos leitões, apenas deixou o serviço mais leve e de mais observação. Por diversas vezes, vemos cochos com falta de ração, levando a grande disputa por parte dos leitões e ou excesso de ração, que resulta no desperdício e perda da qualidade da ração.
A probabilidade de sucesso no setor se torna menor se não considerarmos as necessidades do ambiente em que alojamos os leitões. Fatores como umidade, gases, poeira, ruído são relevantes e bem descritos na literatura, todavia, no nosso sistema de produção, é com a temperatura que devemos nos preocupar. O gráfico 1 mostra as temperaturas ideais para cada faixa de peso dos leitões ao longo da permanência no setor. Estes valores servem de referência, mas o que precisamos é observar o comportamento dos leitões que se agrupam e se amontoam quando estão com frio, e ficam ofegantes e procurando a região da chupeta quando estão com calor.
Fonte: Anais do X Sinsui – maio/2017
Uma rotina de medicação injetável também é de fundamental importância. Protocolos simples prevendo poucas bases medicamentosas em reposta a enfermidades corriqueiras é a primeira etapa de diagnóstico, que é confirmado ao fim de um tratamento de sucesso. Lembrando que não devemos subestimar a competência no médico veterinário neste processo.
ESPAÇAMENTO E CONSTRUÇÃO NA CRECHE
A superlotação na creche está diretamente correlacionada à piora no ganho de peso e conversão alimentar, maior incidência de doenças e, consequentemente, aumento de morte e refugagem, aumento no canibalismo, no custo de medicação e na variabilidade no peso de saída.
Sabendo disso tudo, continuamos, por muitas vezes, desconsiderando a importância de se ter espaço. Se, por hipótese, adotarmos que o período de usufruto de uma sala de creche é de 10 anos (valor extremamente conservador), rateamos o valor investido ao se construir uma sala entre os leitões que serão alojados no período, chegamos, seguramente, a menos de R$ 2,00 por leitão. Só para criarmos uma referência, investimos valor semelhante quando adotamos o uso de ração pré-mater e gelatiza no manejo nutricional.
Associado ao espaçamento, onde podemos considerar 3 suínos por m2 à idade de 70 dias, devemos dar atenção ao número de chupetas e vagas de cocho, onde podemos definir entre 10 a 12 suínos para cada um deles.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabemos dos desafios no setor, investimos alto em dietas cada vez mais elaboradas, contendo mais de 40 ingredientes, medicamos em demasia, a fim de controlar, por muitas vezes, desafios que nós mesmos criamos ao negligenciar aspectos básicos como MDO e espaçamento".
Artigo retirado da Revista Assuvap e Coosuiponte - Edição setembro/outubro